“Perspectivas em Diálogo” chega ao seu oitavo ano e se torna quadrimestral

Postado por: Paulo Vinicius Furlan
Carta da Editora
 
Ao iniciar um novo ano e uma nova década, a “Perspectivas em Diálogo: revista de educação e sociedade” (PDRES) torna-se quadrimestral e, apesar dos desafios de manter as publicações ininterruptas, conseguimos disponibilizar o primeiro número de 2021 com antecedência, graças a confiança de todas as pessoas que submetem os artigos e que contribuem com o processo de avaliação às cegas. A todos/as vocês leitores/as, pesquisadores/as e avaliadores/as, nossos sinceros agradecimentos. Neste décimo sexto número de PDRES e oitavo ano de sua existência, contamos com um total de 23 artigos científicos e uma resenha, sendo um artigo de Portugal, um de Moçambique e o restante distribuído entre todas as regiões do Brasil (Sudeste 9, Sul 5, Centro-Oeste 3, Nordeste 3 e Norte 1). Os textos são de autoria de 46 pesquisadores/as e contemplam diversas temáticas do campo da educação, tais como: formação de professores, gestão escolar, educação inclusiva, saúde e educação, relações de gênero, entre outras. Dessa forma, organizamos a sequência dos textos em blocos temáticos, iniciando pelas discussões sobre a formação de professores, com quatro artigos. O primeiro deles, cujo título é “Promovendo a aprendizagem profissional do docente através de uma comunidade de prática reflexiva em Moçambique”, é resultado de uma pesquisa internacional realizada por Jorge Jaime dos Santos Fringe, Bento Saloio Mazuze, Milton Mucuanga e Luís Muengua, da Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, Moçambique. Os autores refletem sobre a relevância da aprendizagem profissional de professores, por meio de uma comunidade de prática reflexiva, e consideram que o processo de formação docente proporcionou a melhoria na comunicação e no uso de material didático, bem como resultou em uma maior conscientização em relação a prática de ensino realizada. Em seguida, o pesquisador Paulo Jorge Magalhães Teixeira, da Universidade Federal Fluminense (UFF), Rio de Janeiro, em seu artigo “Desenvolvimento profissional docente em um grupo colaborativo” discute a necessidade de haver a participação de professores, especialmente em fase inicial da profissão, em grupos colaborativos, pois nestes espaços os novos docentes encontram ambientes propícios ao seu processo de desenvolvimento profissional. As “Necessidades formativas: educação continuada nas escolas do campo” são abordadas por Deize Degrande e Alberto Albuquerque Gomes, da Universidade Paulista Julio Mesquita Filho (Unesp) Presidente Prudente / SP, os quais evidenciam que é necessário preparar os docentes com conhecimentos teórico e prático, a fim de aprimorar o processo formativo dos professores que atuam em escolas do campo. A formação docente, com ênfase para a área de Matemática, foi contemplada por Ivone Lemos da Rocha, da Universidade Federal de São Paulo (USP), no artigo “A álgebra para ensinar aritmética: um novo saber na formação de professores primários para uma sociedade moderna, década de 1910”. A pesquisa aponta que a álgebra era considerada um saber profissional próprio da docência e que era utilizada para resolver os problemas aritméticos, numa sociedade que primava por novos saberes na formação docente voltada para o ensino de Matemática. Outro bloco de pesquisas refere-se à gestão escolar e inicia-se com o texto “O planejamento pedagógico como espaço de escuta, compartilhamento de saberes e trocas de experiências”, de Ercules Laurentino Diniz, Larissa Cavalcanti de Albuquerque, Edineide Jezine Mesquita de Araújo e Maria das Graças de Almeida Baptista, todos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Por meio de pesquisa bibliográfica e de campo, são apontadas as seguintes possibilidades para as melhorias na escola com um todo: a participação família-escola, condições materiais e de infraestrutura e valorização das tecnologias no processo de ensino e aprendizagem. A gestão escolar é analisada por Ademir Henrique Manfré, da Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE), no texto “A proliferação da cultura do desempenho na escola atual: a gestão de si na nova governamentalidade”, cujo objetivo é colocar em discussão o papel desempenhado pela racionalidade pedagógica empreendedora no direcionamento das formas de governo de si. O autor sinaliza que a crítica realizada por Foucault sobre a sociedade neoliberal, desponta como um referencial teórico capaz de desenvolver as concepções neoliberais, as quais se inserem a educação escolar na contemporaneidade. Para fechar o bloco gestão escolar, com ênfase para a gestão do conhecimento, Aldenisia Bento de Freitas Giovanni, Reginaldo Aliçandro Bordin e Arthur Gualberto Bacellar da Cruz Urpia, da UNICESUMAR de Maringá / PR, discutem a “Reforma da educação com a Lei nº. 13.415/2017 e gestão do conhecimento: formando capital intelectual na sociedade do conhecimento”. Nesse cenário, a autora e os dois autores enfatizam que é necessário haver a valorização de uma educação que atenda as demandas de uma sociedade repleta de incertezas e contradições. A educação inclusiva é o foco de seis pesquisas deste bloco que se inicia com o estudo “Educação inclusiva e a validação do diploma escolar estrangeiro sob a ótica da nova Lei da Migração Nº 13.445/2017”, de Juliana Tomiko Ribeiro Aizawa, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). A pesquisadora reconhece que embora haja esforços internacionais e normas constitucionais fundamentais, ainda persiste o desafio de tornar oportuna e acessível a educação inclusiva, que precisa ultrapassar algumas fronteiras, como a viabilidade de informações quanto aos procedimentos administrativos e judiciais. O “Acesso ao trabalho inclusivo para pessoas com deficiência: uma sistematização de boas práticas baseada em levantamento sistemático da literatura” é o texto elaborado por Tatiana Ferreira da Costa e Silva e Fernando Oliveira de Araujo, da Universidade Federal Fluminense (UFF), que objetivou apontar um conjunto de boas práticas observadas em organizações públicas e privadas, com base em levantamento sistemático da literatura. O estudo contribui com os diversos setores que empregam pessoas com deficiência, por ajudar no gerenciamento e aplicabilidade de ações que incluam, de forma efetiva, as pessoas com necessidades especiais no mundo do trabalho. Se o foco da inclusão dos dois textos anteriores era adolescentes e pessoas adultas, por incluir o Ensino Médio e o mercado de trabalho, os próximos estudos voltam-se para a infância, como a pesquisa realizada por Claudovil Barroso de Almeida Júnior, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), intitulada “Matrícula de crianças com deficiência na educação infantil (2010-2015): o que os dados revelaram?”. O estudo evidencia que predomina o antagonismo entre o que previa os documentos oficiais e o que era praticado pelo poder público, resultando na manutenção de instituições especializadas que, além da segregação escolar, refletia em dificuldades para garantir um ambiente educacional inclusivo. Os próximos três artigos do bloco educação inclusiva abordam questões inerentes ao autismo, sendo dois estudos nacionais e um de Portugal. Assim, Lucília Maria Dias Teixeira, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro / PT, e Patrícia Raquel Silva Fernandes da Universidade do Porto CEPESE / PT, contribuem com a pesquisa “Efeitos da musicoterapia na comunicação, socialização e imaginação em crianças com perturbação do espectro do autismo: um estudo de caso em Rebordosa – Portugal. O estudo aponta que a música é um tipo de linguagem e serve de canal de comunicação entre a criança e o mundo que a rodeia, aproximando-a dos seus pares e facilitando assim a convivência social. “Os desafios vivenciados por famílias de crianças diagnosticadas com Transtorno de Espectro Autista” é o estudo realizado por Rachell Fontenele Alencar de Souza e Júlio César Pinto de Souza, do Centro Universitário FAMETRO, Manaus / AM. A pesquisa sugere que, apesar de apresentarem o diagnóstico precoce, muitas mães demonstraram dificuldades para encontrar profissionais especializados e cada família tem formas particulares de encarar as dificuldades referentes ao transtorno e seus paradigmas. Para fechar o bloco relativo à educação inclusiva, Gisele Soares Lemos Shaw, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) – Bahia, analisa a “Relação entre família, escola, especialistas e o desenvolvimento de pessoas autistas”. O estudo revela que, mediante a aquisição de conhecimentos, colaboração mútua e enfrentamentos de diversos desafios, torna-se possível contribuir com o processo de desenvolvimento integral de pessoas autistas. O próximo bloco de artigos, com temáticas relacionadas as áreas da saúde e educação, inicia-se com o texto “Rotina familiar e acadêmica de famílias de alunos durante o isolamento social”, de Laura Borges e Fabiana Cia, ambas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A pesquisa buscou verificar o funcionamento da rotina familiar e acadêmica de crianças da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental durante o período de isolamento social, causado pela pandemia global do Coronavírus, quando as aulas presenciais foram interrompidas e substituídas por atividades remotas. A partir do estudo realizado, foram identificadas situações como sobrecarga materna, dificuldade em compartilhar das atividades da criança, insuficiência das orientações escolares, necessidade de aprimoramento da comunicação e não-variedade das ferramentas utilizadas nas aulas remotas. Na sequência, a temática “Importância da licenciatura em enfermagem na compreensão de enfermeiros” é discutida por Eduardo Neves da Cruz de Souza e Elis Maria Teixeira Palma Priotto, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), os quais apontam que a pessoa enfermeira licenciada é uma profissional que atua na saúde, na educação básica e na docência em educação profissional. Por conseguinte, o autor e a autora enfatizam sobre a importância da licenciatura na formação do/a enfermeiro/a e sugerem que é necessário reestruturar as diretrizes do curso para a garantir que o processo formativo tenha maior qualidade. As “Percepções de espiritualidade do médico oncologista” é outro artigo da área da saúde, escrito por Flaiane Rampelotto, Gehysa Alves e Eliane Silveira, da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) Canoas, RS, o qual evidencia que a espiritualidade proporciona o encontro existencial entre a pessoa e algo maior do que ela. Assim, é importante que os médicos considerem este aspecto no momento da consulta, a fim de aproximá-lo de seus pacientes e, consequentemente, proporcionar benefícios à forma como a pessoa enferma pode enfrentar a doença. Ao finalizar o bloco relativo a área da saúde, a pesquisa de Maísa Martins Lopes Araújo Brito, Samuel de Menezes Pereira e Gilson Gomes Coelho, da Faculdade Católica Dom Orione (FACDO) – Tocantins, tece uma análise sobre o filme “Orações para Bobby” e mostra a possibilidade de intervenção psicoterápica em situações que envolvem a homossexualidade e o suicídio. Assim, o texto intitulado “Orações para Bobby: um estudo de caso sob o olhar da Psicologia Histórico-Cultural” sugere que é possível construir novos caminhos, mesmo quando a pessoa se sente culpada e precisa lidar com o luto causado pela perda de um filho. As temáticas inerentes a diversidade, que incluem questões raciais e de gênero, são contempladas no próximo bloco de artigos, que inicia com o texto “Construindo gênero na infância: reflexões para uma parentalidade não-sexista”, de Tathiany Rezende de Moura, do Centro Universitário Tiradentes (UNIT). A autora enfatiza que as formas de brincar e a linguagem utilizada pelos adultos podem reforçar a dualidade entre meninos e meninas. Para descontruir tal dualidade, é importante estimular as atividades físicas ou intelectuais que tratem as crianças sem a divisão de sexo ou gênero, como costuma ocorrer na sociedade. As questões de gênero norteiam as discussões realizadas por Jaqueline Teodoro Comin, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), no artigo “Mulheres em movimento: o feminismo no Brasil”, cujo objetivo é analisar historicamente, a partir das três ondas que marcam a evolução do movimento, pautas e garantias de direitos, principalmente na constituição de 1988 e tantas outras leis no código civil brasileiro que foram aportes para mudança social. A autora analisa a relevância do movimento na manutenção e garantia de direitos, bem como o seu potencial de transformação cultural, social e política da sociedade. O gênero feminino e questões raciais são temáticas contempladas no artigo “Construção de subjetividades em adolescentes negras: a agência do racismo cotidiano” de Rosângela Oliveira Gomes Braga e Alexandre de Oliveira Fernandes, da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB/CSC). Ao analisar os efeitos da colonialidade na produção de subjetividades de adolescentes do Ensino Médio, a autora e o autor enfatizam que o cuidado e a prevenção de adoecimento mental de adolescentes negras não podem se dar sem um resgate ontológico de si, sendo o processo do fortalecimento de subjetividades tão urgente quanto o tratamento de feridas visíveis provocadas nos corpos de adolescentes negras. A temática inerente ao gênero feminino permeia as discussões realizadas por Gisiê Balsamo, do Instituto Federal Farroupilha (IFFAR), e Catiane Mazocco Paniz, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no artigo “Um olhar sobre a inclusão das mulheres no curso de Agropecuária: um estudo específico em um Campus do Instituto Federal Farroupilha”. Com a pesquisa, as autoras ressaltam que, apesar de ter aumentado o número de mulheres matriculadas no curso e de haver políticas públicas em favor delas, ainda existe o preconceito de gênero na agropecuária, sendo então necessário refletir sobre essas questões para desnaturalizar os conceitos e costumes enraizados na sociedade. O último artigo científico, que compõe o primeiro número de PDRES do ano vigente, intitula-se “Plantar, narrar e comer: conservação da araucaria angustifolia como projeto escolar em uma comunidade rural no sul de Minas Gerais”, de autoria de Natália Reguera Carvalho, Viviane Santos Pereira, Maria de Los Angeles Arias Guevara e André Wagner Barata-Silva, da Universidade Federal Lavras (UFLA). O estudo buscou refletir sobre experiências ecoformativas e de Educação Ambiental relacionadas à conservação da Araucaria angustifolia, espécie arbórea ameaçada de extinção e destaca a importância de se trabalhar uma pedagogia que crie condições materiais e psicológicas, a fim de que os indivíduos busquem e transformem a relação ser humano-natureza. O presente número de PDRES ainda conta com a resenha escrita por Janaina Souza Silva, Universidade de Campinas – UNICAMP, baseada na obra “Valentin Volóchinov – A palavra na vida e a palavra na poesia”. Trata-se de uma coletânea de textos inéditos e já conhecidos do autor (ensaios, artigos, resenhas e poemas), elaborada pelas pesquisadoras Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo, entre os meses de maio e junho do ano de 2016, a qual utilizou-se dos arquivos do Instituto de História Comparada das Literaturas e Línguas do Ocidente e do Oriente (ILIAZV), em São Petersburgo, Rússia. A obra possibilita ao leitor reconstruir a biografia de Volóchinov e destina-se a todas as pessoas que pesquisam e apreciam a teoria da enunciação difundida pelo Círculo de Bakhtin. Para finalizar, destacamos que em um contexto histórico em que predomina no Brasil o descaso em relação ao mundo da Ciência, esperamos que o décimo sexto número da “Perspectivas em Diálogo: revista de educação e sociedade” contribua com discussões relevantes do campo da educação e, por conseguinte, com a construção de uma sociedade inclusiva, que valorize a diversidade e a emancipação de toda pessoa humana.  
   
Boa leitura!!! 
 
Josiane Peres Gonçalves Editora-chefe de PDRES (2021)